Religião

LITERATURA PARA ALÉM DA ALMA

LITERATURA PARA ALÉM DA ALMA

Em tempos de incertezas nada melhor do que apegar-se à literatura como fonte de incansável fé na vida e no homem, afinal o mundo em que vivemos atravessa um período de estranhas forças, que talvez somente as palavras ao longo dos tempos pedem sinalizar para um mundo de estórias e encantamentos que nos devolvam a esperança por hora abalada.

Nesse tempo de isolamento social, a leitura de “Terra Sonâmbula” do escritor português Mia Couto, devolve-me a experiência do sonho e a certeza do poder da leitura para entrecruzar vidas e propor novos horizontes.

As estórias dentro da estória é um convite ao respeito às tradições dos povos, as emoções e descobertas dos novos vocábulos que Mia tão sabiamente deixa resvalar em seu texto.

Inspirado talvez pela energia semântica literária de Guimarães Rosa, o texto em Terra Sonâmbula é livre e por isso mesmo dar-se ao leitor como pretexto de inventividade.

No machimbombo (autocarro) Muidinga e o velho Tuahir, em meio à tristeza da guerra, encontram na leitura dos escritos de Kindizu uma esperança roubada.

Literatura como fonte de incansável fé na vida e no homem.

A miséria, a fome, o sofrimento são apresentados de maneira dura e cruel, mas a dureza e aspereza do lugar, pela força da leitura da espaço para a fé e expectativa de ver o mar. Isso mesmo, ver o mar significa olhar o horizonte e acreditar que ainda há espaço para vida.

O livro traz em sua estrutura o diálogo entre as estórias de Muidinga e Kindzu.

Com a leveza e a inventividade das palavras, Mia Couto vai ofertando ao leitor um universo imaginário e ao mesmo tempo fantástico dos motivos da guerra e dos efeitos dela no coração dos homens.

A procura, busca é um viés forte ao longo da narrativa de modo que a andar estão os personagens. Hora em círculos ou pelo mar das incertezas, o miúdo e o jovem buscam as respostas para seus anseios e sua identidade.

Nesse caminho, ambos deparam-se com os sonhos e a desilusões, mas carregam uma certa dose de esperança que os fazem continuar a trajetória. Assim, nas palavras do velho Tuahir, “O que faz andar a estrada?

É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva.

E para que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.” Rico em neologismos e inventividade o livro é um convite à singeleza do encontro com o desconhecido.

Nesse tempo de tantas adversidades, descobrir uma Terra Sonâmbula é um privilégio que nos aproxima do encantamento necessário para acreditar que adormecido ou quem sabe em estado de sonambulismo está o nosso planeta, esperando apenas que os homens te dêem a mão e a conduza para um sonho bem mais bonito.

  • Jumária Lima

(Graduada em Letras pela Universidade do Estado da Bahia- UNEB, especialista em Gestão do Trabalho Pedagógico (UNINTER), Educação à distância e formação de Professores pela Universidade de Brasília (UNB) e professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela rede do Estadual da Bahia)

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