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A pressa de Francisco após o Sínodo da Amazônia

A pressa de Francisco para publicar documento sobre Amazônia

Diante da realidade pós-sinodal, vemos a pressa de Francisco.

No final do mês, poderemos ter em mãos a terceira exortação apostólica pós-sinodal
A rapidez com a qual Francisco concluiu o documento poderia indicar essa intenção de frear os ‘burburinhos’

Estamos às portas da publicação da exortação apostólica pós-sinodal em resposta à assembleia de bispos sobre a Amazônia, realizada em outubro de 2019.
Sendo assim, é inevitável não voltarmos ao tema.
Como adiantado por nós do Dom Total na semana passada, é possível que, já no final de janeiro, o papa publique o documento.
Uma exortação que será concluída em tempo recorde se a compararmos aos textos da mesma natureza concluídos ao longo do atual pontificado.

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Até agora, Francisco publicou duas exortações apostólicas pós-sinodais:

Amoris laetitia, em resposta ao sínodo para as famílias (2014-2015) e a Christus vivit, escrita após o sínodo para os jovens (2018).
Em ambos os casos, o papa publicou o documento cerca de 7 meses após a finalização dos eventos.
O que levaria Francisco a ter tanta pressa em relação à última reunião de bispos?

A pressa de Francisco para publicar documento sobre Amazônia

Sem dúvida, a questão ecológica, para Francisco, é crucial.
A exortação seria a coroação de um período no qual o pontífice é já considerado uma referência mundial no assunto.
O texto apresentado pelos participantes da assembleia apresenta uma série de propostas e denúncias diante da degradação do território amazônico.

E a conclusão do documento papal dois meses e meio após o encerramento do sínodo leva a crer que Francisco tenha utilizado parte desse texto conclusivo.
Outra possibilidade é que o papa tenha preferido não entrar em questões polêmicas, como no caso dos viri probati.

Ele poderá sugerir que se crie uma comissão para avaliar a proposta, como fez em relação ao diaconato feminino.

Na visão de muitos padres sinodais, existe uma intenção clara de desviar o foco da Amazônia, o que levaria muitos grupos, alinhados com a extrema-direita, a insistir em questões de disciplina, como no caso do celibato sacerdotal.

Para quem tem um pouco de honestidade intelectual, sabe que a lei promulgada pela Igreja Católica no Ocidente, que impede que os sacerdotes se casem desde o século XII, não foi colocada em questão em nenhum momento.
Para se ter uma ideia, sequer foi proposto o celibato facultativo para padres, como acontece na parte oriental do catolicismo.

Terceiro: um sínodo não tem o poder de realizar nenhum tipo de mudança, por se tratar de um órgão consultivo.

É tanto que o discurso dos “youtubers formadores de opinião” brasileiros – que receberam tanta repercussão durante sínodo, mas mal sabiam como funcionava a assembleia – gerou enorme confusão entre os fieis em relação ao processo sinodal.
Depois descobrirmos que muitos deles foram financiados por “centros de ensino católico” do Brasil que fazem parte de uma rede de difusão dos ideais da extrema-direita.

E as suspeitas se tornam ainda mais evidentes.

A rapidez com a qual Francisco concluiu o documento poderia indicar essa intenção de frear os “burburinhos”, sobretudo após a publicação do livro do cardeal Sarah sobre o celibato, feita no último dia 15.
Pode ser que o papa tenha pensado que, quanto mais demorar, mais crescerão os ataques e a difusão de informações infundadas sobre o documento.
E em se tratando de Brasil, que certamente se prepara para receber o documento da maneira mais reacionária possível, quanto mais pudermos evitar dar palanque para imbecil enquanto é tempo, melhor. E salve, Boechat!

*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.

Fonte: Vaticano News/ Dom Total