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Brumadinho e seus segredos de morte

Funcionário da Vale chora e diz que mineradora sabia da instabilidade em barragem de Brumadinho desde 2018

Em depoimento à CPI, funcionário confirmou depoimentos anteriores e disse que mineradora minimizou risco em Brumadinho.


Para funcionário da Vale, omissão de informação fez com que funcionários acreditassem na segurança e estabilidade da barragem (Clarissa Barçante)

Pelo menos desde junho de 2018 a mineradora Vale tinha conhecimento dos riscos de rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte).


Na ocasião, a empresa determinara intervenções não rotineiras na barragem, com o objetivo de drenar a água para impedir vazamentos.

As informações são do técnico em eletroeletrônica Moisés Clemente, funcionário da gerência responsável pela manutenção e segurança da barragem.

As declarações foram feitas durante depoimento prestado nesta quinta-feira (1º) Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), confirmando outros depoimentos anteriormente colhidos pela comissão. Moisés chorou ao lembrar de um amigo deficiente que morreu na tragédia.

Segundo Moisés, entre os dias 11 e 13 de junho de 2018 houve uma movimentação diferente na região da barragem da mina Córrego do Feijão, resultando em pelo menos 24 horas de trabalho ininterrupto.

Para funcionário da Vale, omissão de informação fez com que funcionários acreditassem na segurança e estabilidade da barragem

Ele explicou que a turma C, da qual faz parte, não chegou a ser convocada para essa atividade extraordinária, mas colegas da turma D teriam informado a ele a respeito, garantindo que a situação da barragem sugeria risco máximo (10) e não 3, como a empresa informara aos funcionários.

Na sua opinião, a Vale errou ao minimizar os riscos para os funcionários.

“Essa omissão de informação fazia a gente acreditar na segurança e estabilidade da barragem”.

De acordo com relato de seus colegas, reproduzido por ele à CPI, a turma em atividade naqueles dias fora convocada para serviço braçal, carregando sacos de areia com o objetivo de criar um dreno invertido.

Para isso, escavaram um fosso com cerca de três metros de profundidade por três de comprimento, preenchido com areia.

Disse ainda que a partir de dezembro “as tratativas se tornaram mais intensas, uma demanda fora da normalidade”.

Ele informou, ainda, que em 2016 a Vale deixou de trabalhar com a empreiteira Pimenta de Ávila, especializada em geotecnia, gestão de riscos e segurança de barragens e que, segundo ele, executava o trabalho com muita competência, tendo participado, inclusive, da elaboração do plano de segurança da barragem.

Choro, pois o crime de Brumadinho poderia ter sido evitado

Emocionado, Moisés recordou de amigos que perdeu durante o rompimento da barragem, citando o caso de um colega com dificuldade de locomoção, que sucumbiu ao desastre.

Ele denunciou que tempos antes esse mesmo colega se queixara por ter sido deslocado para um local de trabalho mais próximo da área de risco.

A medida alterou procedimento anteriormente adotado, pelo qual pessoas com deficiência eram alocadas em salas ou áreas de trabalho menos vulneráveis.

Moisés relatou, ainda, que o refeitório que submergiu na avalanche de lama passara por reforma poucos meses antes.

Durante as obras, os funcionários chegaram a usar um outro refeitório, maior e mais distante da área de risco.

Mas, após a reforma, as refeições voltaram a ser servidas no local que foi depois destruído.

Há nove anos trabalhando na Vale, o técnico disse ainda que a empresa que conheceu, ao ingressar, era muito diferente de hoje.

Segundo ele, antigamente, “a preocupação com a vida era muito maior”. O trabalhador informou ainda que chegou a participar de treinamentos e palestras, mas não de simulação de campo com rota de fuga.

Fonte: ALMG