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Francisco e o ‘pacto global’ em favor dos migrantes

‘No lugar daquele migrante poderia ser você’, diz Francisco em Malta

Em conclusão de viagem apostólica, Francisco reforça seu desejo de promover um ‘pacto global’ em favor dos migrantes

Papa Francisco em encontro com refugiados em Malta neste domingo, 3

Papa Francisco em encontro com refugiados em Malta neste domingo, 3 Foto (Mirticeli Medeiros/Dom Total)

Mirticeli Medeiros, enviada especial a Malta

Uma viagem curta, mas intensa, como o próprio Papa a definiu. Francisco, visivelmente cansado e com dificuldades para andar – o que o levou a pedir auxílio para caminhar em várias etapas da visita – mesmo assim não parece disposto a diminuir o ritmo de suas viagens, embora a frequência delas, também por causa da pandemia, sofreu uma leve queda.

Em seu segundo e último dia em Malta, o pontífice começou o dia visitando a histórica igreja onde, segundo a tradição, o apóstolo Paulo teria se refugiado antes de seguir para Roma, em 60 d.C. Para o Papa, além da importância do lugar para os malteses, o santuário é símbolo da acolhida que o cristianismo é chamado a promover. Por isso mesmo, na oração diante da gruta, Francisco elogiou “os pagãos” que, na época de Paulo, acolheram o apóstolo e seus amigos sem preconceitos, movidos pela solidariedade.

“Eles os trataram com uma humanidade rara, diante de quem tinha necessitava de refúgio, de segurança e assistência. Ninguém conhecia os seus nomes, a proveniência ou condição social, mas sabiam somente de uma coisa: que precisavam de ajuda. Não havia tempo para discussões, juízos, análises e cálculos: era o momento de prestar socorro”, reforçou.

E com a exortação sobre a acolhida aos estrangeiros, Francisco dedicou esse dia para tratar da crise migratória, que acabou se intensificando após a invasão da Ucrânia. Malta é rota de passagem de muitas embarcações que provêm da África, por se localizar, justamente, entre as costas italiana e tunisiana.

E não só: o pequeno arquipélago adquiriu, nos últimos tempos, uma relevância política, uma vez que uma eurodeputada do país, Roberta Mensola, se tornou a presidente do Parlamento Europeu em janeiro deste ano. E é por isso que, nessa viagem, Francisco dirigiu várias mensagens também à Europa, acreditando que a “rosa dos ventos de Malta”, caso seja manejada como se deve, pode contribuir com essa rede concreta de solidariedade que ele sonha instaurar no velho continente, de modo que o território, segundo o próprio projeto de nova evangelização da Igreja Católica, faça jus à sua raiz cristã.

Não por acaso, o último compromisso público do Papa no país foi, justamente, o encontro com os imigrantes abrigados no ‘Peace Lab João XXIII’, uma fundação católica, formada por voluntários, que trabalha na acolhida dos migrantes há mais de 30 anos.

Dois imigrantes nigerianos contaram ao Papa o drama de atravessar o mediterrâneo em busca de melhores condições de vida. Daniel Jude, por exemplo, narrou a trágica situação à qual se submeteu, confiando a contrabandistas, por 11 vezes, o seu destino. Na tentativa desesperada de atravessar o mar para fugir da situação dramática que vivia, foi para a Líbia, de onde é mais fácil, por causa da localização, encontrar embarcações para a Europa. Uma frase dita por ele, em particular, comoveu a todos: “Por que homens como nós são considerados inimigos, criminosos e não irmãos?”. Em seguida, ele contou como a arte o ajudou a superar as dores de uma vida toda de insucessos.

O quadro que a jornalista Eva Fernández, da Rádio COPE, da Espanha, entregou para o Papa durante o voo de ida para Malta, é de autoria de Daniel.

Como sabemos, a crise migratória é um fenômeno nada recente. E o Papa não quer que a situação da Ucrânia, embora dramática, seja vista como a única capaz de gerar comoção. Tanto que, ao final do discurso, o pontífice fez questão de reforçar que é um drama global, que infelizmente foi acentuado após o início da guerra no Leste Europeu.

“Mas também nas histórias de muitos outros homens e mulheres que, à procura de um lugar seguro, tiveram de deixar a própria casa e nação na Ásia, na África e nas Américas”, disse o papa argentino.

Na coletiva de imprensa durante voo de regresso a Roma, Francisco concluiu: “Não nos esqueçamos que a Europa é formada por imigrantes”.

Dom Total