Religião

Espiritualidade: uma questão de saúde!

Espiritualidade: uma questão de saúde!

As religiões podem contribuir com o desenvolvimento espiritual de seus seguidores.

A saúde humana abarca também a dimensão espiritual

A saúde humana abarca também a dimensão espiritual (Unsplash/William Farlow)

Para que uma pessoa seja considerada saudável é preciso mais que saúde física e mental. A saúde humana abarca também a dimensão espiritual. É importante que “espiritualidade” não seja confundida com “religiosidade” ou “religião”, mesmo que as três coisas possam estar relacionadas. A dimensão espiritual é aquela que torna possíveis os processos de elaboração oriundos da reflexão, bem como de atribuição de sentido às experiências vividas. Entre outras coisas, isso significa que é por meio do exercício da espiritualidade – que não é fé! – que temos condições de desenvolver nossa humanidade e passar pelas transformações existenciais que carecemos ao longo da vida. Daí, então, a importância de que a compreensão do que seja saúde passe também pela dimensão espiritual.

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Toda pessoa humana tem a capacidade de viver o desenvolvimento espiritual que, em última instância, significa também desenvolvimento humano. Fazemos cultura e este é um dos traços dessa nossa capacidade. Quando olhamos para a cultura ocidental ou, mais propriamente, para a cultura brasileira, damos conta do quanto ela é permeada de religiosidade. Se, pois, a religiosidade e, em decorrência, a religião, são frutos da cultura, e esta um fruto da capacidade humana de desenvolver-se, logo podemos ver a relação entre elas e a espiritualidade. Fazemos religião – tal como outros elementos da cultura – porque, humanamente, damo-nos conta de que a nossa vida é bem mais do que suprir necessidades biológicas básicas.

As religiões são fruto do anseio humano de experiências de significação que ajudem, entre outras coisas, a responder as questões fundamentais que desde sempre – e sempre! – levantamos. Somos seres religiosos porque somos relacionais, e os que fazem religião compreendem que essa dimensão relacional vai além das relações humanas imediatas, elas podem apontar para uma transcendência que chamamos de “sagrado”, “deuses” ou “Deus”. Na mediação dessas relações, as religiões oferecem aos seus adeptos experiências que alcançam nossos afetos e emoções, isto é, a nossa interioridade psíquica, que comumente chamamos de alma. Daí, então, as religiões podem contribuir com o desenvolvimento espiritual de seus seguidores, porque podem oferecer contributos às experiências de sentido e transformação da existência, que partem dessa nossa interioridade. Quando, pois, as religiões trazem essa contribuição aos sujeitos religiosos elas contribuem, igualmente, com a saúde desses sujeitos. Mas, é preciso ressaltar: também quem nutre sua vivência espiritual sem qualquer vínculo de pertença religiosa ou fé, também cuida de sua própria saúde, porque zela pelo seu desenvolvimento humano.

A espiritualidade é uma questão de saúde humana! Os três textos de nosso Dom Especial passeiam por essa questão, trazendo percepções distintas e agregadoras dessa noção inicial. Resgatando e aprofundando a dimensão humana e humanizante da espiritualidade, Camila Marçal propõe o artigo A espiritualidade em sua dimensão antropológica, no qual reflete sobre essa área fundante do humano que pressupõe cuidado, tanto em vista da saúde do sujeito, quanto do mundo que o cerca. Débora Ferreira Bossa reflete, no artigo Religião e adoecimento psíquico, a inter-relação entre a singularidade do sujeito e sua pertença coletiva, em especial no que diz respeito a agrupamentos religiosos, e em como isso afeta na saúde ou no adoecimento psíquicos. Por fim, temos o artigo “Os sãos não precisam de médico, mas, sim, os que estão doentes”, de Luciana Cangussu, que, retomando uma frase atribuída a Jesus, pelos evangelhos, reflete sobre a importância do cuidado espiritual, sobretudo nos momentos de crises, tal como temos vivido atualmente.

Boa leitura e inspiração para o cuidado com a vida espiritual!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo e professor. Coordena a editoria de religião deste portal. É co-autor do livro Teologia no século 21: novos contextos e fronteiras (Saber Criativo, 2020). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

Fonte: Dom Total