Religião

O essencial e a pandemia: cristão de verdade não se alia a governo genocida e armamentista

O essencial e a pandemia: cristão de verdade não se alia a governo genocida e armamentista.

Nunca a sociedade discutiu tanto o que é essencial como nesta pandemia. Porém, o Brasil virou um pária internacional em permanece o medo, o egoísmo e a indiferença

Passado um ano de pandemia, é possível prever que o Brasil pós Covid será pior

Passado um ano de pandemia, é possível prever que o Brasil pós Covid será pior (Marcos Corrêa/PR)

Essencial! Do latim essentiālis. Adjetivo de dois gêneros, é relativo a natureza nuclear das coisas; inerente a algo ou alguém; que constitui o básico ou o mais importante de algo; fundamental e indispensável. Tem como sinônimos: vital e elementar, precioso e necessário. Nunca a sociedade discutiu tanto o que é essencial!

Ah sociedade… Essa é substantivo feminino, que significa agrupamento de seres que convivem em estado social e em colaboração mútua. Lembram-se do início da pandemia?  Esse estado social despertou solidariedade e altruísmo. Para enfrentar o medo e a solidão, criou-se bingos, cantorias, exercícios físicos nas janelas. Varandas se transformaram ora em palcos, ora em plateia. Os aplausos, muitas vezes foram para as equipes médicas.  Distribuição de marmitex, máscaras e álcool em gel. Jovens se ofereciam para ir as compras de supermercado e farmácia para evitar que os idosos ficassem expostos ao coronavírus. Tudo levava a crer no “vamos sair melhores de tudo isso”. Porém, passado um ano é possível prever que o Brasil pós Covid será pior. “Novo normal”?

A média de quase 2 mil mortes diárias já não impressionam. Uma catástrofe! Quase 300 mil brasileiros perderam a vida! A morte de pais, mães, filhos, irmãos, tios, sobrinhos, avós, amigos vizinhos não sensibilizam mais. Mortos viraram números, pouco importa o sacrifício e estresse psicológicos dos profissionais da saúde. Festas, carnaval, cultos, aglomerações, baladas, praias e bares lotados. Um clima de liberou geral associado a falta de oxigênio, de leitos, de ministro da saúde, de vacina, de absoluta incompetência do governo federal. Descaso e desrespeito! Agora, pois permanece o medo, o egoísmo e a indiferença, mas o pior destes três é a indiferença, diria o apóstolo Paulo aos brasileiros?

Quando foi que o país se tornou tão sem-vergonha? “O silencio diante do mal é o próprio mal” (Bonhoeffer).

Bolsonaro transformou o Brasil num pária global. Não importa as pessoas que estão morrendo, é o que ele quer que aconteça. Monstruoso. A população aderiu ao plano genocida do bolsonarismo negacionista? Escolheu disseminar o vírus? Não há mais distanciamento social, máscaras são penduradas no queixo ou esquecidas no bolso ou na bolsa.

O que é essencial. Essencial para quem? Para o capitalismo? Para se “tocar o barco”? O momento é cada um por si. Salve-se quem puder! O pacto social se desfez? Não negociamos, apenas negligenciamos. Antagonicamente ao resto do mundo, sacrificamos vidas na ilusão de salvar a economia. Relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) destaca que os países que fizeram um rigoroso isolamento social já estão se recuperando economicamente. Um estudo australiano indica que o Brasil, numa lista de 100, foi o país que pior administrou a pandemia. Barbárie e vergonha.

Economicamente, o essencial depende do ponto de vista. Se sou o proprietário de barbearia ou academia, do restaurante ou do bar, estar aberto é essencial. É preciso pagar contas, impostos, funcionários. No entanto, o capitalismo se sustenta da exploração do trabalhador, sem ele não há riqueza. São necessárias medidas drásticas, para se evitar os efeitos funestos do coronavírus sobre o trabalhador. O governo neoliberal brasileiro atua para aumentar a riqueza de uns e a pobreza de muitos. Bolsonaro, com sua cruel necropolítica, não está sozinho à mesa. Ao seu lado está a elite escravocrata, os políticos corruptos. A imprensa dominante se apega a factoídes e abandona o debate sobre o combate a Covid-19. Aliás, a tragédia Bolsonaro é consequência direta da decisão da mídia de se transformar em partido político.

Não é possível ser cristão e neoliberal. O povo, excluído da mesa, é um serviçal acostumado às migalhas. “Cidadão de bem” que vai a festas, frequenta bares, baladas, praias, transmite, assim como Bolsonaro, o “vírus da indiferença”. Levante-se dessa mesa!

Precisamos de um “Pacto Nacional pela Vida” independente de políticos preocupados com a próxima eleição. Precisamos de políticas que complementem os salários do trabalhador, que garantam renda mínima, amplie o Bolsa família e, principalmente, taxe as grandes fortunas. Que se faça a reforma tributária! A pandemia está nos dando a oportunidade de recomeçar, de olhar para além do próprio umbigo!

Como nos ensina papa Francisco em Fratelli Tutti: “Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viajantes indiferentes que passam ao largo […] Não devemos esperar tudo dos governantes; seria infantil. Gozamos dum espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas. Não sejamos repetidores da lógica dos violentos”. Cristão de verdade não se alia a governo genocida e armamentista.

Essencial é socorrer as pessoas, é a vacinação em massa, é o auxílio emergencial, é pressionar o governo. Essencial é a vida!

Que ouçamos Paulo: Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor (1 Cor 13,13).

Fonte: Dom Total