Religião

Nova identidade cristã

Nova identidade cristã.

Reflexão do Evangelho de Marcos 9,2-10 no 2º domingo da Quaresma

Só esta comunhão crescente com Jesus vai transformando a nossa identidade e os nossos critérios

Só esta comunhão crescente com Jesus vai transformando a nossa identidade e os nossos critérios (Markus Spiske / Unsplash)

RD

Para ser cristão, a coisa mais decisiva não são as coisas que uma pessoa acredita, mas que relação vive com Jesus. As crenças geralmente não mudam as nossas vidas. Pode-se acreditar que Deus existe, que Jesus ressuscitou e muitas outras coisas, mas não ser um bom cristão. É a adesão a Jesus e o contato com ele que nos pode transformar.

Nos evangelhos pode ler-se uma cena que tradicionalmente passou a ser chamada de transfiguração de Jesus. Já não é possível reconstruir a experiência histórica que deu origem ao relato. Só sabemos que era um texto muito querido entre os primeiros cristãos, pois, entre outras coisas, os encorajava a acreditar apenas em Jesus.

A cena situa-se numa montanha alta.

Jesus está acompanhado por dois personagens lendários da história judaica: Moisés, representante da Lei, e Elias, o profeta mais querido da Galileia. Só Jesus aparece com o rosto transfigurado. Desde o interior de uma nuvem, ouve-se uma voz: “Este é o meu filho querido. Escutai-O”.

O importante não é acreditar em Moisés ou Elias, mas sim escutar Jesus e ouvir a sua voz, a do Filho amado. O mais decisivo não é acreditar na tradição ou nas instituições, mas sim centrar as nossas vidas em Jesus. Viver uma relação consciente e cada vez mais comprometida com Jesus Cristo.

Só então se pode ouvir a sua voz no meio da vida, na tradição cristã e na Igreja.

Só esta comunhão crescente com Jesus vai transformando a nossa identidade e os nossos critérios, vai curando a nossa forma de ver a vida, libertando-nos de escravidões, vai fazendo crescer a nossa responsabilidade evangélica.

Desde Jesus podemos viver de forma diferente.

As pessoas já não são simplesmente atraentes ou desagradáveis, interessantes ou sem interesses. Os problemas não são assuntos de cada um. O mundo não é um campo de batalha onde cada um se defende como pode. Começa a doer-nos o sofrimento dos mais indefesos. Atrevemo-nos a trabalhar por um mundo um pouco mais humano. Podemos parecer-nos mais com Jesus.

Publicado originalmente por Religión Digital e traduzido para o IHU.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián

Fonte: Dom Total