Religião

Natal: que o amor renasça entre nós!

Natal: que o amor renasça entre nós!

Difícil celebrar o Natal em meio a uma pandemia, depois de um ano tão triste.

Nenhum tipo de discriminação se justifica diante do presépio de Belém

Nenhum tipo de discriminação se justifica diante do presépio de Belém (Pixabay)

No Natal os cristãos celebram um dos eventos mais significativos da sua fé. É quando Deus demostra todo o seu amor por nós, se faz humano na figura do menino Jesus. “Não tenham medo! Anuncio a vocês uma Boa Notícia, uma grande alegria: Nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias e Senhor” (Lucas 2,10-11). O verdadeiro Messias é amor. Vem trazer a paz!

Deus se deu a conhecer no que há de mais vulnerável no ser humano: uma criança. Um bebê recém-nascido é uma fragilidade a ser protegida. Deus também nasceu de uma mulher e necessita dos cuidados dela. Ele quer ser encontrado em nossa humanidade. O “Santo dos Santos” não está na ostentação, no milagroso, no poderoso. O “Salvador” se fez presente em uma criança em um estábulo. Não é esse Deus a antítese de todos os nossos mitos de grandeza, riqueza e poder? “A simplicidade é o último grau da sabedoria e só os sábios conseguem vê-la” (Khalil Gibran).

Nenhum tipo de discriminação se justifica diante do presépio de Belém. Jesus não nasceu entre os poderosos, ricos e violentos, mas junto aos insignificantes e na absoluta simplicidade. Filho de um casal de trabalhadores é o maior transgressor da história. Subversivo desde a concepção! Assim Deus começa sua passagem entre nós.

É o Deus dos que sofrem, dos maltratados, dos esquecidos, dos desprezados. Seu primeiro ato foi compartilhar seu destino com os milhões de abandonados da terra.

O que menos valorizamos é o que mais necessitamos. Necessitamos de mais humanidade! Sermos verdadeiramente humanos. Deus se humanizou. Armou sua tenda no meio de nós para nos ensinar a simplicidade, o amor, o respeito, a partilha e cuidarmos uns dos outros. É disso que se trata. Quer fazer a diferença na vida de alguém? Aja como um ser humano.

O Natal é revolucionário! A construção de um mundo mais humano é uma realidade começada há mais de dois mil anos com o nascimento de Jesus.

O Cristo do Natal nasce para nos libertar das trevas geradas pelo ódio, pela indiferença, pelos preconceitos, pela desigualdade social, pela justiça corrompida, pelas religiões fundamentalistas intolerantes.

Jesus pertence a toda a humanidade. Ele não é monopólio de nenhuma religião. No Natal não se aprende uma doutrina, mas uma forma de ser e de estar no mundo. Celebrar o Natal é estar do lado de Jesus Maria e José, nunca do lado dos inimigos da humanidade e das políticas geradores de morte dos Herodes de hoje.

Deus-conosco estabelece relações de amor. Ampliemos na sociedade o sentido da fraternidade, recuperando a importância das relações humanas. A misericórdia é o princípio inspirador do cristianismo. Aqueles por quem ninguém se interessa, são os que mais interessam a Deus. Todos os desprezados pela sociedade ou discriminados pela religião devem alegrar-se com essa mensagem.

Olhemos para o estábulo de Belém. Ali estão as raízes da nossa humanidade. Que os sinos de imponentes catedrais não sufoquem o choro e o grito revolucionário do bebê de Maria e José.

Que Ele nos desperte do sono da hipocrisia, da covardia e da indiferença.

O nascimento de Jesus também se deu em um contexto de violência, escuridão e angústia. Contudo, fez ressurgir a esperança em tempos tenebrosos. Deus vem na noite do mundo, na angústia dos aflitos. A luz vem nas trevas para vencer as trevas. No meio da noite do mundo, celebremos o Natal. Que seja uma festa do nascimento de Jesus com Jesus! Na beleza e na profundidade das coisas simples. Como pede a ocasião. É preciso amar para “ver” de fato o Natal.

Quem entendeu o sentido do Natal é capaz de tornar o Amor presente neste mundo. Sem o amor, o que restaria do cristianismo? Ubi caritas, Deus ibi est.

Que a luz vença as trevas. “Eu vi para que todos vivam plenamente” (João 10, 10).

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: ‘Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja’ (Paulinas, 2001); ‘Cristianismo e economia’ (Paulinas, 2016)

q1