Religião

Os caminhos do capitão

Os caminhos do capitão

Os caminhos do capitão.
‘Roda mundo, roda-gigante, roda moinho, roda pião’
Desembargador Kassio Nunes Marques.

É fácil, não requer prática nem tampouco habilidade. Lembra de Toffoli, advogado do PT e de José Dirceu, que entrou no STF com a missão, diziam, de amaciar tudo para os antigos clientes e confrontar Gilmar Mendes? Então? Ele anda aos abraços com Gilmar e Bolsonaro, apesar da Covid. E Rodrigo Maia, que bolsonaristas chamavam de “Nhonho” ou “Nhonhô”, ou algo mais pesado quando ninguém estava gravando? Isso: aquele que disse que Guedes está desequilibrado. Hoje é íntimo do Imposto Ipiranga e só não o ajuda a manipular a mangueira de novas taxas para não pegar mal. Até, dizem, chama Bolsonaro de capetão – nem deve ser verdade, falta de respeito!

Lembra de Olavo de Carvalho, amigo de Bolsonaro até mandá-lo enfiar uma condecoração naquele lugar que, comenta-se, Paulo Guedes chama de as complacentes pregas do Tesouro? Ficou amigo de novo. E brigou de novo, mas só até fazer as pazes. E de Sara Winter, aquela feroz feminista nua que, em contato com a Dama da Goiabeira, a ministra Damares, virou defensora de hábitos terrivelmente conservadores e montou um grupo armado? É agora é crítica dura do governo ao qual, diz, “entregou a sua vida”. Tudo pode mudar de uma hora para outra, mas hoje Bolsonaro faz refeições mais requintadas com novos amigos mais agradáveis e que mantêm os ouvidos (e não só eles) abertos a seus argumentos. Entre os convivas, ministros do STF que logo julgarão imparcialmente seus processos, com o rigor implacável da Lei.

O mundo gira

Em certa época o ministro Gustavo Bebbiano, homem forte da campanha, perdeu o cargo por receber oficialmente, no desempenho de suas funções, um diretor da Rede Globo. Nenhum dos novos inimigos de Bolsonaro havia discordado de medidas do governo: todos foram acusados de traidores desde antes da campanha. Rodou o general Santos Cruz, rodou o ministro Moro. Não, Paulo Guedes não rodou. Seria injustiça se rodasse: ele não fez nada!

Bamboleio que faz gingar

A escolha do ministro Kassio Marques, dizem que indicado por Frederick Wassef, aquele em cuja casa se alojava o famoso Queiroz das Rachadinhas (a turma dos apelidos não tem piedade!), foi aprovada previamente pelos ministros Gilmar Mendes e Toffoli, sacramentando os vários acordos de paz. Os bolsonaristas de raiz (aqueles mais radicais, como Silas Malafaia, como Sara Winter), souberam pelos jornais – e devem ter ficado furiosos porque foram obrigados a ler a @mídialixo, a @imprensapodre, veículos que nunca publicaram aquele aval de qualidade @bolsonaro tem razão, para saber quais seriam seus próximos amigos. Olavo de Carvalho bateu duro, mas os olavistas, pelo jeito, ainda não receberam as instruções do intelectual do grupo. E os outros grupos, tipo bolsopetistas, lulobolsonaristas, @andar com fé eu vou que a fé não costuma falhar, parecem ainda desarticulados. Tudo está tão esquisito que um defensor público da União, contrariando os colegas, exige do Magazine Luíza o pagamento de R$ 10 milhões por abrir programa de treinamento só para negros. Empresário aqui nunca acerta. Sempre há alguém do governo cobrando indenizações.

A cereja e o creme

As mais divertidas manifestações contra a escolha de Kassio Marques para o STF vieram de empresários que acusam Bolsonaro de perder a chance de optar por um conservador. Marques não é muito conhecido, não se sabe ainda o que pensa, mas partiram do princípio de que Bolsonaro, ao agir sem consultá-los, escolheu um progressista – talvez até comunopetista, daqueles que deveriam mudar-se para a Coreia do Norte, Cuba ou Venezuela, junto com Joe Biden, Lula, José Dirceu (e, naturalmente, Chico Buarque).

Quem nomeou

Nos 15 anos de PT anteriores a Bolsonaro, Kassio Marques foi nomeado duas vezes pelos petistas – e por quem seria nomeado, se os petistas estavam no poder? Era advogado no Piauí e ficou amigo do petista Wellington Dias, hoje governador. Horror dos horrores! Bolsonaro o apresentou não apenas a Gilmar e Toffoli, mas também ao presidente do Senado, David Alcolumbre, que os bolsonaristas aprenderam a odiar. Alguns dos empresários que criticaram Bolsonaro: Winston Ling, Gabriel Kanner, sobrinho de Flávio Rocha (Riachuelo), Luciano Hang, das Lojas Havan. Frase de Leandro Ruschel: “Acabou, porra! O presidente deixa claro que a sua sustentação política se dará pelas forças que controlam o país desde 88, aglutinadas no vulgo Centrão, se afastando da militância conservadora que o elegeu”. O grupo Vem pra Rua ensaia passeatas “Fora, Bolsonaro” para o dia 25.

Entendendo tudo

O deputado federal Alexandre Frota encaminhou à Polícia Federal dados que, diz, ligam Eduardo Bolsonaro, o filho 03, a esquemas de notícias falsas. É por isso que o presidente precisa se reforçar no Congresso e Supremo. Os amigos antigos que aceitem, apoiem ou rompam. Para ele não faz diferença.

Carlos Brickmann é jornalista e diretor do escritório Brickmann&Associados Comunicação, especializado em gerenciamento de crises.
Desde 1963, quando se iniciou na profissão, passou por todos os grandes veículos de comunicação do país.
Participou das reportagens que deram quatro Prêmios Esso de Equipe ao Jornal da Tarde, de São Paulo.
Tem reportagens assinadas nas edições especiais de primeiras páginas da Folha de S.Paulo e do Jornal da Tarde.

Fonte: Dom Total

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