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Em nome de Deus? Qual Deus?

Em nome de Deus? Qual Deus?

Em nome de Deus? Qual Deus?
Nas últimas semanas os noticiários apresentaram matérias que demostram a instrumentalização do nome de Deus, do cristianismo e da fé.
Padre Robson, pastor Everaldo e deputada Flordeliz.

Professar uma religião ou pronunciar o nome de Deus não forma caráter.
Contudo, a ingenuidade do rebanho é mais assustadora do que a má intenção do pastor.
Ninguém está conseguindo ridicularizar o cristianismo mais do que muitos cristãos.

Nas últimas semanas os noticiários apresentaram matérias que demostram a instrumentalização do nome de Deus, do cristianismo e da fé.

Deus, armas, família: mistura fatal. A investigação sobre o assassinato do pastor Anderson do Carmo, ocorrido no ano passado escancarou a farsa da família cristã perfeita. Um pastor, uma pastora e seus 55 filhos.
A “família de Deus” escondia segredos e foi capaz de matar.

A pastora evangélica e deputada federal Flordelis foi antes mãe adotiva de Anderson, depois sogra, mais tarde esposa e agora é considerada mentora do seu assassinato.
Em uma mensagem trocada com um de seus filhos Flordelis deixa escapar que o assassinato do marido seria um mal menor: “separar dele não posso, porque senão ia escandalizar o nome de Deus”.
Ás favas o 5º Mandamento! Em nome de Deus também fez um pedido à bancada feminina da Câmara Federal:

“Querem caçar meu mandato. Venho aqui pedir a vocês pelo amor de Deus não deixem que façam isso comigo”.

Em nome de Deus radicais católicos e evangélicos, muitos deles parlamentares, condenaram uma criança por desejar abortar toda e qualquer lembrança que aflija seu corpo e sua alma sofridos por abusos cometidos pelo tio desde seus seis anos, até engravidá-la aos 10. Condenaram o juiz que autorizou o aborto com base na lei e o médico que o realizou. Em nome de Deus.

E o que dizer do padre Robson de Oliveira, alvo principal de Vendilhões do templo, nome dado a operação da Polícia Federal que investiga supostos crimes praticados pela Associação Filhos do Pai Eterno (AFIPE).
A Associação fundada e presidida pelo mestre em teologia moral é investigado por suposta apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal.

O padre administrava milhões em doação dos fiéis, uma rádio e uma TV, uma daquelas que ofereceram apoio a Bolsonaro em troca de dinheiro. Boa parte das doações tinha vínculo com compra de imóveis, propriedades rurais, cabeças de gado e até projetos de mineração.
O padre estava à frente da construção de um faraônico santuário, com capacidade para receber cerca de 300 mil pessoas. Obra orçada em R$ 1,4 bilhão. Em nome do Pai Eterno. “Vês estes grandes edifícios?

Não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada” (Mc 13 1,2).

O presidente do Partido Social Cristão (PSC) frequenta as páginas policiais. Em nome de Deus, Everaldo Pereira, pastor da Assembleia de Deus, aquele que batizou a família Bolsonaro no Rio Jordão, foi preso por corrupção. Juntamente com dois filhos, ele é acusado de desviar recursos da saúde. Considerado chefe de uma organização criminosa que usava até carro forte para lavar dinheiro no Uruguai.

Em que parte do Evangelho esses “religiosos” aprenderam isso?

Nenhum político é escolhido por Deus. O efeito catastrófico de uma nação que prioriza a doutrina de sua religião à Constituição do seu país é a escolha dos seus políticos pela sua crença do que pelo seu projeto de sociedade. O Brasil é presidido por alguém batizado por pastor Everaldo e eleito usando o nome de Deus: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Desde então, o país vive um retrocesso vergonhoso. Aquele que faz crer em mentiras absurdas é capaz de cometer e permitir atrocidades.

Mas já que os fundamentalistas preferem a Lei de Moisés ao Evangelho de Jesus, voltemos ao Segundo Mandamento da Lei de Deus: Não pronunciar o nome do Senhor, teu Deus, em vão (Ex 20, 7).
O nome do Senhor é santo. Os católicos podem ler no Catecismo (&2148) que o abuso do nome de Deus é blasfêmia. Blasfemar é proferir palavras de ódio, violência e morte em nome de Deus.

É blasfemo recorrer ao nome de Deus para encobrir práticas criminosas, reduzir povos à servidão, torturar ou matar.

O abuso do nome de Deus para cometer crimes provoca a rejeição da religião. Blasfemar é não ouvir o Espírito Santo que grita nos LGBTs, nos negros, nos pobres, nas mulheres torturadas, nas crianças violentadas, nos índios, nos desempregados, no morador de rua, nas matas em chamas.

O segundo mandamento proíbe o uso mágico do nome divino. Blasfemar é servir-se da santidade do nome divino para pedir coisas fúteis (2155): carro novo, passar no concurso, ganhar o campeonato, um casamento, uma viagem, um presente, um cargo na empresa, uma eleição.

Judas, o traidor, foi o primeiro a pedir dinheiro para conduzir alguém até Jesus. O Deus de Jesus não representa tiro, arma, violência, dinheiro.

O melhor de todos os “cristianismos” é o amor. Deus é amor. Deus é honrado quando os pobres são saciados, os presos, anciãos e enfermos são visitados, quando o racismo é combatido. A verdadeira religião: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo” (Tiago 1,27).

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: ‘Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja’ (Paulinas, 2001); ‘Cristianismo e economia’ (Paulinas, 2016)

Fonte: Domtotal

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