Liturgia Diária

Sentido de fé da Sexta-feira Santa

Sentido de fé da Sexta-feira Santa.

“Se no centro do pensamento de Paulo está a obra de Jesus, o seu mistério pascal de morte e ressurreição, no centro do pensamento de João está o ser, a pessoa de Jesus. Aquele que dá sentido a existência humana.

 Caros irmãos e irmãs,

“Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. O que foi testemunha desse fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a fim de que vós creiais.” (Jo 19, 33-35).

Ninguém jamais será capaz de nos convencer de que esta atestação solene não corresponda à verdade histórica, que quem afirma ter estado presente e visto, na realidade, não estava presente nem viu.

Neste caso, vai depender da honestidade do autor. No Calvário, aos pés da cruz, estava a mãe de Jesus e, ao lado dela, “o discípulo a quem Jesus amava”.

Nós temos uma testemunha ocular!

Ele “viu” não apenas o que acontecia sob o olhar de todos. À luz do Espírito Santo, depois da Páscoa, ele também viu o sentido do que acontecera: que naquele momento estava sendo imolado o verdadeiro Cordeiro de Deus e era realizado o sentido da Páscoa antiga; que Cristo na cruz era o novo templo de Deus, de cujo lado, como o profeta Ezequiel predisse (47, 1 ss.), jorra a água da vida;

Sentido de fé hoje e sempre.

Que o espírito que ele emite no momento da morte dá início à nova criação, como “o espírito de Deus”, pairando sobre as águas, tinha transformado no princípio o caos no cosmos. João entendeu o significado das últimas palavras de Jesus: “Tudo está consumado” (Jo 19, 30).

Jesus se doa inteiramente por amor, um amor que vai além das fronteiras e limites humanos.

É na cruz que Deus se revela como um Deus que ama o ser humano, e somente na cruz se torna manifesto quão longe vai esta infinita capacidade de autodoação de Deus.

“Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1); “De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu (à morte) seu filho único” (Jo 3, 16); “Me amou e se entregou (à morte) por mim” (Gl 2, 20).

Jesus na cruz não nos deu apenas o exemplo de um amor de doação levado ao extremo;

ele nos mereceu a graça de podê-lo atuar, em pequena parte, na nossa vida. A água e o sangue jorrados do seu lado chegam a nós hoje nos sacramentos da Igreja, na Palavra, até só olhando com fé o Crucifixo.

Uma última coisa João viu profeticamente sob a cruz: homens e mulheres de todos os tempos e de todos os lugares que olhavam para “aquele que foi transpassado” e choravam de arrependimento e consolo (ver Jo 19, 37; Zc 12,10).

Na Sexta-feira da Paixão celebramos a paixão e morte de Jesus Cristo. Não é um feriado, é um dia santo. O silêncio, o jejum e a oração devem marcar este dia, em clima de profundo respeito diante da morte do Senhor que, morrendo, foi vitorioso, Ressuscitou e trouxe a salvação para todos, ressurgindo para a vida eterna.

Celebramos hoje nossa redenção.

O Senhor se entregou livremente ao Pai porque nos ama incondicionalmente e para que todos nós fôssemos redimidos, libertos do pecado e pudéssemos nos relacionar com Deus como nosso Pai. Assim, como Jesus entregou o seu espírito ao Pai, deixemos ecoar dentro do nosso coração a fé e digamos, Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito, seja feita a tua vontade.

Jesus morre em uma cruz por cada um de nós, portanto, a morte de Jesus na cruz de madeira do Calvário permitiu a todas as pessoas receber perdão pelos seus pecados.

Esta morte, contudo, foi realmente a consequência de Jesus ter tomado a Sua cruz diariamente – uma cruz interior e metafórica, na qual toda a vontade própria foi sacrificada e assim todo o pecado na carne foi levado à morte.

Enquanto que a cruz do Calvário foi o fim da vida física de Jesus aqui na Terra, esta cruz (o perdão dos pecados) é apenas o começo para um discípulo que tem um alvo genuíno de chegar a uma vida de completa vitória sobre todo o pecado na carne – todo o pecado que nós temos herdado da queda – exatamente como Jesus fez.

A cruz separa os crentes dos não crentes, porque, para alguns, ela é escândalo e loucura, e, para outros, é poder de Deus e sabedoria de Deus (cf. I Cor 1, 23-24).

Em sentido mais profundo, ela une todos homens, crentes e não crentes. “Jesus tinha que morrer […] não por uma nação, mas para reunir todos os filhos de Deus que andavam dispersos” (Jo 11, 51 s.). Os novos céus e a nova terra são de todos e para todos, porque Cristo morreu por todos.

Que Deus vos abençoe e que seja a fortaleza de cada um vós.

Pe. Erberson Dias

Atual Vigário Paroquial da cidade de Carinhanha-Bahia, na Paróquia São José. O mesmo, sempre que possível nos prestigia com excelentes contribuições textuais.

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