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Inteligência Artificial em debate no Vaticano

Inteligência Artificial em debate no Vaticano.

“O ‘bom’ algoritmo? Inteligência Artificial: Ética, Direito, Saúde”.”Por trás da máquina existe o homem, por trás do algoritmo existem os dados e os dados nada mais são que escolhas já feitas”

“O ‘bom’ algoritmo? Inteligência Artificial: Ética, Direito, Saúde”.

Esse é o tema da convenção promovida pela Pontifícia Academia para a Vida, que a partir da tarde desta quarta-feira reúne no Vaticano para três dias de estudos acadêmicos, cientistas e engenheiros de empresas multinacionais de tecnologia

Serão três dias intensos de debates no Vaticano que culminarão, em 28 de fevereiro, com a assinatura no Auditório da Via da Conciliação de um “call for ethics”, (“apelo à ética”).

Um texto compartilhado sobre a relação entre ética e tecnologia que servirá de guia para as futuras evoluções do setor, e que será apresentado ao Papa Francisco.

O encontro “O bom algoritmo? Inteligência artificial: ética, lei, saúde”

Apresentado na terça-feira, 25, na Sala de imprensa da Santa Sé – tem entre os temas programados nos debates:
A aplicação no mundo da saúde e da medicina, as implicações relacionadas ao direito e à privacidade e, em primeiro plano, o espaço e as problemáticas que envolvem a esfera ética.

Os trabalhos tiveram início na tarde da última quarta-feira, 26, na Sala Nova do Sínodo.

Entre os palestrantes do primeiro dia, vindos da Alemanha, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Inglaterra, está o padre Paolo Benanti.

Ele é professor de Ética e Bioética da Pontifícia Universidade Gregoriana, que fará uma palestra intitulada:
“Questões Teológicas e Antropológicas da Inteligência artificial”. O sacerdote conversou com o Vatican News:

“Por trás da máquina existe o homem, por trás do algoritmo existem os dados e os dados nada mais são que escolhas já feitas”

R.- Então, vamos começar com um exemplo: não é a primeira vez que implementamos sistemas que decidem sozinhos.
Muitos de nós já pegamos, por exemplo, o trem que no aeroporto leva de um terminal a outro, sem um condutor.
Nos anos 70, quando o desenvolvemos, uma filósofa de Oxford, Philippa Ruth Foot, fez com que todos concordassem que se o trem estivesse em uma condição em que teria que decidir se machucaria 3 pessoas ou apenas uma, naquele caso, infelizmente, ele teria minimizado os danos para a pessoa sozinha, e não para as outras 3.

Assim hoje, por exemplo, quando aumenta a difusão de automóveis autônomos (sem condutor), e quando esses carros custam várias centenas de milhares de euros, a questão é:

Mas poderíamos fazer carros capazes de proteger o passageiro em comparação, quem sabe, a três desconhecidos, porque o passageiro é quem compra o carro?
Eis portanto, que as diferenças nas condições sociais, as diferentes condições de uso colocam em discussão os limites operacionais que antes eram dados como óbvios.

Quando falamos de ética e inteligência artificial, significa redefinir essas regras comuns que fazem com que a complexidade da sociedade possa ser compatível com a automação.

Como se pode objetivar um parâmetro ético, de modo a torná-lo um dado elaborado pelo algoritmo?

R.- A norma ética é aquela generalização de uma circunstância com que nos deparamos e devemos decidir.
Quando nos encontramos diante de uma vida inocente, o fato de todos termos dito que a vida inocente não pode ser tocada, levou à norma: não mate.
Ora mutatis mutandis, ou seja, mudando aqueles que são os parâmetros, trata-se de fazer os mesmos processos de generalização.

Isto é, de dar instruções em código à máquina para que ela não faça algumas coisas.

Um exemplo do que eu disse: hoje todos nós temos nossos assistentes digitais no smartphone.

Se pedirmos ao smartphone para nos ajudar a cometer suicídio, há alguém que inseriu dentro uma linha de código que diz que, nesse caso, deve ser sugerido um psicólogo.

Assim, se trata de fazer coisas análogas.

Qual é a abordagem teológica para esse tema?

R.- Bem, antes de tudo, também é teologia a compreensão que o homem tem de si mesmo.
Isso significa entender o homem como algo que se excede a si mesmo, excede os dados.

O homem é entendido como criatura e, portanto, entender também a realidade como uma criação que nos foi confiada a nós e da qual não somos donos absolutos.

A fé é fundada no Evangelho, que é a lei do amor encarnada em nossos corações, confiada ao nosso agir.
Três coordenadas muito velozes para dizer que há muito a ser feito.

Por que é uma ilusão pensar que confiar-se verdadeiramente ao algoritmo e à decisão tomada pela máquina seja a solução dos problemas?

R.- Porque por trás da máquina existe o homem, por trás do algoritmo existem os dados e os dados nada mais são que escolhas já feitas.
Eu poderia perguntar ao melhor algoritmo quem será o próximo presidente dos Estados Unidos.

Mas como sempre foram homens, ele me dirá que o próximo deveria ser um homem.

E se houve uma injustiça no passado ou um erro no passado, não fará outra coisa senão refazê-lo.
Precisa de novo do homem para entender o que é certo.

Michele Raviart – Cidade do Vaticano
Fonte: Vaticano News