Religião

Sagrada Família e novas configurações familiares

A Sagrada Família de ontem e de olhe.

A Sagrada Família, constituída por Jesus, Maria e José, que é elevada ao nível exemplar.

Mateus apresenta Jesus vindo de alguém que se prostituiu, uma prostituta, uma estrangeira e alguém que cometeu adultério

Olhando a sagrada família, Jesus, Maria e José.

No tempo de Natal, além do nascimento de Jesus, celebra-se também a família na qual se deu este nascimento: a Sagrada Família, constituída por Jesus, Maria e José, que é elevada ao nível exemplar.
A celebração litúrgica desta família a propõe como modelo, cujas virtudes devem ser imitadas.
É uma família constituída por uma união heterossexual, monogâmica e indissolúvel.
Mas como ficam então as outras configurações familiares, tão numerosas na sociedade atual?

Tomando a Sagrada Família como modelo e exemplo, convém refletir sobre a genealogia de Jesus apresentada nos Evangelhos.

Para nós, hoje, aquela lista de nomes pode parecer desnecessária e não fazer sentido.
Mas há aspectos importantes e mesmo surpreendentes.
No mundo bíblico, mencionar a filiação era a marca da identidade, como por exemplo: Josué, filho de Nun; Simão, filho de Jonas; e Tiago e João, filhos de Zebedeu.
Duas genealogias de Jesus são apresentadas: em Mateus e em Lucas.

A linhagem é toda paterna e masculina, conforme o caráter patriarcal da sociedade.

Em Mateus, a lista de nomes vai até Abraão, como no início se anuncia: “Genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”.
Com isto, Jesus se vincula ao grande rei Davi e ao patriarca dos hebreus e pai dos crentes, Abraão.

Há algo bem original na genealogia de Mateus. Ele menciona quatro mulheres.
Não precisaria mencioná-las, como Lucas não o fez.
As quatro mulheres mencionadas por Mateus poderiam ser as chamadas quatro mães de Israel: Sara, Rebeca, Lia e Raquel; esposas dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, respectivamente.
Mas não. São mencionadas Tamar, Raab, Rute e “a que fora mulher de Urias” (Betsabé). Quem são estas mulheres?

Celebrar a Sagrada Família traz mais alegria.

Tamar foi casada com Onã, que por praticar coito interrompido foi castigado por Deus com a morte.
Segundo a lei, Tamar deveria se casar com um irmão de Onã para gerar descendentes na família de seu marido falecido.
Mas o seu sogro, o patriarca Judá, não lhe deu seu filho Sela, com quem ela deveria se casar.
Então Tamar disfarçou-se de prostituta e seduziu seu sogro, ficando grávida dele.
Depois que toda a história veio à tona, Judá reconheceu: “Ela foi mais honesta do que eu.
É que não lhe dei meu filho Sela para marido” (Gn 38,26).

Na Igreja Católica, hoje, felizmente vai se abrindo espaço para os que vivem em outras configurações

Raab era prostituta em Jericó no tempo da conquista de Canaã.
Ela protegeu os espiões de Josué.
Quando a cidade foi tomada pelos israelitas, seus habitantes foram dizimados, mas Raab e sua família foram poupadas em retribuição à sua colaboração, decisiva para a vitória israelita.

Rute era estrangeira, uma ameaça ao povo hebreu pelo perigo dos casamentos mistos e dos costumes pagãos (Sl 106,34-41).
A mulher de Urias foi a pessoa com quem Davi cometeu adultério.

Ela engravidou, e depois disso Davi tramou a morte de seu marido.

Desta forma, Mateus nos apresenta Jesus, filho de Davi e filho de Abraão, como filho de Tamar, de Raab, de Rute e de Betsabé; alguém que se prostituiu, uma prostituta, uma estrangeira e alguém que cometeu adultério.
Com isto, Mateus prepara o leitor do Evangelho para o que ele dirá em seguida: “Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo” (1,18).

Portanto, Deus é surpreendente e desconcertante.

Da longa saga de Israel, com suas grandezas e misérias, Ele fez nascer o messias, servindo-se de diversas situações humanas e familiares.

Nas origens da Sagrada Família, portanto, mencionam-se outras configurações familiares.

Na Igreja Católica, hoje, felizmente vai se abrindo espaço para os que vivem em outras configurações.
A CNBB tratou desta questão ao propor a renovação pastoral das paróquias, em 2014.
Os bispos brasileiros reconhecem que nas paróquias participam pessoas unidas sem o vínculo sacramental e outras em segunda união.
Há também as que vivem sozinhas sustentando os filhos, avós que criam netos e tios que sustentam sobrinhos.
Há crianças adotadas por pessoas solteiras ou do mesmo sexo, que vivem em união estável.

Os bispos exortam a Igreja, família de Cristo, a acolher com amor todos os seus filhos.

Conservando o ensinamento cristão sobre a família, é necessário usar de misericórdia.
Constata-se que muitos se afastaram e continuam se afastando das comunidades porque se sentiram rejeitados, porque a primeira orientação que receberam consistia em proibições e não em viver a fé em meio a dificuldades.
Na renovação paroquial, deve haver conversão pastoral para não se esvaziar a Boa Nova anunciada pela Igreja e, ao mesmo tempo, não deixar de se atender às novas situações da vida familiar.

“Acolher, orientar e incluir nas comunidades aqueles que vivem numa outra configuração familiar são desafios inadiáveis”.

O papa Francisco convocou o Sínodo dos Bispos para tratar da família, lançando a toda a Igreja um amplo debate sobre novas configurações familiares, incluindo uniões do mesmo sexo, contemplando muitas pessoas que vivem numa situação chamada irregular.
Na Exortação Pós-sinodal, o papa ensina que a alegria do amor vivido nas famílias é também o júbilo da igreja.

A força da família reside essencialmente na sua capacidade de amar e ensinar a amar.

Os que estão em uma situação “irregular” podem viver na graça de Deus, amar e também crescer na vida da graça e do amor, recebendo para isso a ajuda da Igreja que pode incluir os sacramentos.
Por essa razão, deve-se lembrar aos sacerdotes que o confessionário, onde comumente se ministra o sacramento da penitência, não é uma sala de tortura, mas o lugar onde se experimenta a misericórdia do Senhor.
E a Eucaristia não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento aos que necessitam.

Com esta perspectiva inclusiva, celebrar a Sagrada Família traz mais alegria, vibrando com a grandeza do amor de Deus encarnado que vem ao nosso encontro.

*Luís Corrêa Lima é sacerdote jesuíta e professor da PUC-Rio. Trabalha com pesquisa sobre gênero e diversidade sexual.

Fonte: Dom Total

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