Liturgia Diária

A paixão de Cristo, uma justiça em paradoxo

Dessa forma, a paixão de Cristo pressupõe injustiça, pois, foram incapazes de encontrar uma provas que justificasse sua uma punição.

Assim, a paixão de Cristo é permeada de profundo silêncio por parte do Mestre.

Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento da sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Leitura (Isaías 50,4-7)

O Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está abatido.

Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo; (o Senhor Deus abriu-me o ouvido) e eu não relutei, não me esquivei.

Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros.

Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis por que não me senti desonrado; enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado.
Palavra do Senhor.

Por isso, eis um inocente condenado a morrer como os bandidos e os marginais.

Salmo Responsorial 21/22
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Riem de mim todos aqueles que me vêem,

torcem os lábios e sacodem a cabeça:

“Ao Senhor se confiou, ele o liberte

e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”

Cães numerosos me rodeiam furiosos,

e por um bando de malvados fui cercado.

Transpassaram minhas mãos e os meus pés

e eu posso contar todos os meus ossos.

Eles repartem entre si as minhas vestes

e sorteiam entre si a minha túnica.

Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe,

ó minha força, vinde longo em meu socorro!

Anunciarei o vosso nome a meus irmãos

e no meio da assembléia hei de louvar-vos!

Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores,

glorificai-o, descendentes de Jacó,

e respeitai-o, toda a raça de Israel!

Glória e louvor a vós, ó Cristo.

Leitura (Filipenses 2,6-11)

Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.

E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.

Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos.

E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.
Palavra do Senhor.

Jesus Cristo se tornou obediente, obediente até a morte numa cruz. Pelo que o Senhor Deus o exaltou e deu-lhe um nome muito acima de outro nome (Fl 2,8s).

Evangelho (Lucas 23,1-49)

N (Narrador): Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, levantou-se a sessão e conduziram Jesus diante de Pilatos, e puseram-se a acusá-lo:


G (Grupo ou assembléia): Temos encontrado este homem excitando o povo à revolta, proibindo pagar imposto ao imperador e dizendo-se Messias e rei.

N:Pilatos perguntou-lhe:
L (Leitor): És tu o rei dos judeus?
N: Jesus respondeu:
P (Presidente): Sim.

N:Declarou Pilatos aos príncipes dos sacerdotes e ao povo:
L: Eu não acho neste homem culpa alguma.
N: Mas eles insistiam fortemente:
G: Ele revoluciona o povo ensinando por toda a Judéia, a começar da Galiléia até aqui.

N: A estas palavras, Pilatos perguntou:
L: Esse homem é galileu?
N: E, quando soube que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, pois justamente naqueles dias se achava em Jerusalém.

Herodes alegrou-se muito em ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido falar dele muitas coisas, e esperava presenciar algum milagre operado por ele.

Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu.
Ali estavam os príncipes dos sacerdotes e os escribas, acusando-o com violência.

Herodes, com a sua guarda, tratou-o com desprezo, escarneceu dele, mandou revesti-lo de uma túnica branca e reenviou-o a Pilatos.

Naquele mesmo dia, Pilatos e Herodes fizeram as pazes, pois antes eram inimigos um do outro.

Pilatos convocou então os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo, e disse-lhes:

L: Apresentastes-me este homem como agitador do povo, mas, interrogando-o eu diante de vós, não o achei culpado de nenhum dos crimes de que o acusais.

Nem tampouco Herodes, pois no-lo devolveu. Portanto, ele nada fez que mereça a morte.
Por isso, soltá-lo-ei depois de o castigar.


A paixão de Cristo que nos liberta.

N: Todo o povo gritou a uma voz:
G: À morte com este, e solta-nos Barrabás.
N: (Este homem fora lançado ao cárcere devido a uma revolta levantada na cidade, por causa de um homicídio.)

Pilatos, porém, querendo soltar Jesus, falou-lhes de novo, mas eles vociferavam:
G: Crucifica-o! Crucifica-o!
N: Pela terceira vez, Pilatos ainda interveio:
L: Mas que mal fez ele, então? Não achei nele nada que mereça a morte; irei, portanto, castigá-lo e, depois, o soltarei.

N: Mas eles instavam, reclamando em altas vozes que fosse crucificado, e os seus clamores recrudesciam.
Pilatos pronunciou então a sentença que lhes satisfazia o desejo.

Soltou-lhes aquele que eles reclamavam e que havia sido lançado ao cárcere por causa do homicídio e da revolta, e entregou Jesus à vontade deles.

Enquanto o conduziam, detiveram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para que a carregasse atrás de Jesus.
Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam.

A paixão de Cristo que nos ensina.

Voltando-se para elas, Jesus disse:
P: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos.

Porque virão dias em que se dirá: “Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram!”
Então dirão aos montes: “Caí sobre nós!” E aos outeiros: “Cobri-nos!”

Porque, se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco?
N: Eram conduzidos ao mesmo tempo dois malfeitores para serem mortos com Jesus.

Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda.
E Jesus dizia:
P: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem.

N: Então, os saldados dividiram as suas vestes e as sortearam.
A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo:

G: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!
N: Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam:

G:Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.
N:Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: “Este é o rei dos judeus”.
Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele:
L: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!
N: Mas o outro o repreendeu:
L: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício?

Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.


N: E acrescentou:
L: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!
N: Jesus respondeu-lhe:

P: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.
N: Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona.
Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio.
Jesus deu então um grande brado e disse:

P: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.
N: E, dizendo isso, expirou.
(Todos se ajoelham e permanecem em silêncio)
N: Vendo o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e disse:
L: Na verdade, este homem era um justo.

N: E toda a multidão dos que assistiam a este espetáculo e viam o que se passava, voltou batendo no peito.
Os amigos de Jesus, como também as mulheres que o tinham seguido desde a Galiléia, conservavam-se a certa distância, e observavam estas coisas.
Palavra da Salvação.

Diante disso, se achavam detentores de poder sobre a vida do outro.

Como vimos na liturgia, a paixão de Cristo gira em torno de um paradoxo: um inocente condenado a morrer como os bandidos e os marginais.

Dessa forma, fica claro que os seus acusadores foram incapazes de encontrar uma prova que justificasse sua uma punição.

Assim sendo, Pilatos achou por bem enviá-lo a Herodes, cuja jurisdição abrangia a Galiléia, na tentativa de confirmar seu parecer.

E, consequentemente, ao ser enviado de volta, Pilatos deduziu que também Herodes nada havia apurado contra Jesus.

Assim, a paixão de Cristo é permeada de profundo silêncio por parte do Mestre.

E, agindo assim, como o Servo Sofredor, Ele se comparou com um cordeiro manso, levado ao matadouro. Seu silêncio justificava-se.

Pois, era impossível buscar a verdade dos fatos com quem estava fechado para a verdade.

Diante disso, não existe Lei para quem se arvora em senhor da vida e da morte do próximo. Toda tirania descamba para a injustiça.

Assim, se perpetuou a paixão de Cristo, conduzida de forma sábia, usando de fragilidade diante de seus carrascos como um gesto profético e de fidelidade ao seu testemunho de vida.

Por isso, Jesus se recusou, até o fim, a entrar na ciranda da violência, que paga com a mesma moeda a injustiça sofrida.

Não respondendo ao mal com o mal, Jesus conseguiu desarticulá-lo, mostrando que é possível ao ser humano não se deixar dominar por seus instintos perversos.
Portanto, a partir do exemplo da paixão de Cristo, possamos também buscar conduzir o nosso viver de testemunho e missão.

Oração
Espírito de justiça, que a contemplação da morte de Jesus me torne sensível às injustiças que, ainda hoje, se cometem contra tantos inocentes.