Viver Evangelizando

Acolher a mensagem do Evangelho: um aprendizado para a igreja atual

foto-reflexão

Acolher a mensagem do Evangelho: um aprendizado para a igreja atual

Um amor sacrificado implica pensar um amor que se entrega em favor do seu próximo, que está disposto a seguir o exemplo de Jesus, entregando-se plenamente à vontade de Deus.

Fabrício Veliq*

Também agradecemos a Deus sem cessar, pois, ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em vocês, os que crêem. Porque vocês, irmãos, tornaram-se imitadores das igrejas de Deus em Cristo Jesus que estão na Judéia. 1 Tessalonicenses 2:13,14a

1 Tessalonicenses é considerado o primeiro texto escrito do Novo Testamento. Escrita por Paulo à comunidade de Tessalônica, revela-se como um texto muito importante para pensarmos a igreja na atualidade. Focalizaremos nossa atenção no texto acima por acreditarmos que ele pode trazer algumas reflexões importantes.

Algo que se mostra interessante de observar é que Paulo afirma que os tessalonicenses receberam a palavra como sendo palavra de Deus e não de homens. O termo palavra, como nos mostra a TEB, “tornou-se termo técnico na literatura primitiva cristã”, sendo quase sinônimo de Evangelho. Ou seja, a mensagem do Evangelho foi recebida e acolhida no meio daquela comunidade, de maneira que eles se tornaram imitadores de Cristo em seu sofrimento, estando dispostos a serem martirizados por causa de sua fé.

Diante desse cenário trazido por esses dois pequenos versículos da carta, devemos pensar a igreja em nossos dias. Afinal, não é difícil perceber diversas palavras de homens sendo acolhidas no meio de diversas denominações como sendo palavras vindas da parte de Deus. Tais palavras, ao invés de trazer vida são geradoras de morte, uma vez que vêm recheadas de todo tipo de preconceito, sendo palavras dogmáticas e que se fecham a todo questionamento. Ou seja, são palavras que no lugar de trazerem a paz, recuperam a opressão e a incentivam, no lugar de conduzir pessoas à luz, levam-nas para as trevas, no lugar de aproximarem as pessoas do amor de Deus, afastam-nas dele, impondo um fardo superpesado de se carregar.

No entanto, o que o texto afirma é que aquela comunidade recebeu a mensagem do Evangelho e a acolheu, ou seja a tomaram para si a incumbência de viver uma vida semelhante a Jesus, tanto em sua forma de agir, quanto em seus sofrimentos. Essa mensagem do Evangelho, que afirma que Deus não está irado com a sociedade, mas que tem o desejo de reconciliar-se com ela por meio de Jesus, o que implica uma fé ativa e não somente discursiva.

Nesse sentido, a comunidade de Tessalônica compreendeu que somente o discurso a respeito de Deus não é suficiente para aqueles e aquelas que receberam e acolheram a mensagem do Evangelho. Antes, como diz Paulo no primeiro capítulo da carta, tal comunidade tinha uma fé ativa, um amor sacrificado e uma perseverante esperança, o que novamente nos dá indicações valiosas de como deve ser a vivência da fé nas igrejas. Uma fé ativa é aquela que não está preocupada somente com os discursos sobre Deus ou os dogmas e sistematizações. Pensar nessas coisas, sem dúvida é importante, mas a fé cristã demanda ações efetivas para a transformação da sociedade em um lugar mais justo e igualitário, e onde as opressões de quaisquer tipos não tenham lugar.

Da mesma forma, um amor sacrificado implica pensar um amor que se entrega em favor do seu próximo, que está disposto a seguir o exemplo de Jesus, entregando-se plenamente à vontade de Deus, o que nada tem a ver com um amor romântico, tal idealizado em diversos cânticos nas comunidades atuais.

Por último, a esperança perseverante, que mostra que apesar das perseguições e dificuldades que o seguimento de Jesus traz, a luta pelos valores do Reino de Deus que implica a transformação da sociedade permanece. Nesse sentido, a esperança cristã, juntamente com a fé e o amor (que, posteriormente, serão consideradas as três virtudes teologais) não são passivos, antes visam a transformação do mundo por meio da Palavra de Deus, que é Jesus Cristo.

A igreja atual tem muito a aprender com esses pequenos versículos dedicados aos Tessalonicenses. Colocar tais compreensões em prática é tarefa imprescindível para que a igreja cristã possa ser imitadora de Cristo e reflexo da comunidade desejada por Deus.

Fabrício Veliq é protestante e teólogo. Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), Doctor of Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bacharel e Licenciado em Filosofia e Licenciado em Matemática (UFMG). É coautor do livro: Teologia no século 21: novos contextos e fronteiras. Editora Saber Criativo. E-mail: fveliq@gmail.com. Site: www.fabricioveliq.com.br.

Sair da versão mobile