Religião

Fraternidade e Educação: discernir

Fraternidade e Educação: discernir

Quando a educação será prioridade?

‘A crise da educação não é uma crise, é um projeto’ (Darcy Ribeiro)

Investir na educação. Mas não em qualquer educação. Uma educação humanizadora e solidária.

Élio Gasda*

Precisamos de discernimento, e com urgência!

Em 2017, o governo Temer congelou o investimento em educação por 20 anos! A implementação das 20 metas do Plano Nacional de Educação para a década de 2014-2024 (Lei 13.005) não serão alcançadas. Essa lei determinou investimento em educação pública de, no mínimo, 7% do PIB, até 2019, e 10% até 2024. Com Bolsonaro, esse investimento não passa de 6,3%.

Investir na educação. Mas não em qualquer educação. Uma educação humanizadora e solidária, como ressalta Papa Francisco: “nunca, como agora, houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna”.

Nesse sentido, a CNBB, com a Campanha da Fraternidade 2022, incentiva a sociedade a contribuir para a construção de uma convivência social harmoniosa e fraterna por meio da educação. Escutar, discernir e agir. Antes de agir, é preciso discernimento a partir da escuta do Evangelho.

Todos os dias somos chamados a tomar decisões. O discernimento deve ser exercido de forma séria, quando precisamos decidir diante de situações em que o sentido da vida, a dignidade humana, a justiça, a liberdade e o futuro estão em jogo. A referência do discernimento do cristão é Jesus Mestre.

Leia Também:

Mundo à Deriva

O Filho de Deus, como todos nós, viveu em família, na comunidade. Aprendeu a ler, escrever, a escutar o Pai e a realidade. Utilizava as parábolas para questionar seus ouvintes e despertar em seus corações o desejo de aprender. Ensinava com autoridade, testemunho de vida e coerência. Praticava o que ensinava nas sinagogas, no Templo, na montanha, na beira do lago, do poço, nas estradas, nas casas, até no barco.

Com gestos e palavras, transmitia a misericórdia, a justiça, o amor incondicional, a paz, o respeito pelas diferenças. Soube escutar, dialogar e apontar caminhos. Sua pedagogia foi libertadora para inúmeros oprimidos: pecadores, discriminados, trabalhadores, empobrecidos, doentes, estrangeiros, mulheres, crianças…

Para aprender de Jesus é preciso estar com Ele. Aprender e transmitir: “Ide e ensinai” (Mt 28,19-20). A Educação é elemento essencial da missão da Igreja. O cristianismo, em toda sua história, buscou concretizar a missão de educar no amor a Deus e no amor ao próximo. Todo cristão é chamado a ser discípulo missionário e contribuir na formação humana de pessoas.

Educar para o diálogo. Educar para a cultura do encontro. A educação deve formar a pessoa em todas as suas dimensões: dimensão corporal, espiritual, política. “O corpo do homem participa da dignidade da ‘imagem de Deus’: ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual. É a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito” (Catecismo, 369). Cada pessoa é única, irrepetível e singular.

Quando se trata de educar é fundamental colocar a pessoa humana no centro de todo o processo. Somente assim será uma educação humanista e formadora de cidadania. Essa é a condição para uma sociedade justa e fraterna. Não há humanismo solidário sem verdadeira garantia de direitos humanos para toda pessoa.

A família também é uma comunidade educativa. É o primeiro espaço de humanização. Esse é o papel da família: educar para a construção de uma sociedade melhor. A escola ensina e a família educa. Não! Escola e Família educam. Tanto a escola quanto a família são espaços de humanização e de discernimento da realidade política, social, econômica e ambiental. A família é responsável em promover o desenvolvimento de seus filhos. Educar para o diálogo a partir de Jesus, respeitando a todos. Educar para o bem, para o bom, para a verdade, para o belo.

2a008fe35d67ef1d16b9781548d70855

Amor, a principal “lição de casa”: a força da família reside na sua capacidade de ensinar a amar. “Para além de seus prementes problemas e de suas necessidades urgentes, a família é um ‘centro de amor’, onde reina a lei do respeito e da comunhão, capaz de resistir aos ataques da manipulação e da dominação dos centros de poder mundanos” (Papa Francisco). Educar no amor é educar no Evangelho: “Fazer que outro se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo” (João Paulo II).

Educação é um direito universal, inalienável. Uma educação de qualidade para todos requer que todos – família, escola, sociedade, governo – estejam pactuados para oferecer os melhores esforços para formar pessoas maduras e com responsabilidade na construção do bem comum. A escola é um espaço de mudança social. Formar pessoas melhores é um jeito de fazer um mundo mais humano e justo. Que o discernimento não seja em vão.

Dom Total

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: ‘Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja’ (Paulinas, 2001); ‘Cristianismo e economia’