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Brasil é o quarto emissor histórico de CO2 do planeta

Levantamento mostra que Brasil é o quarto emissor histórico de CO2 do planeta

Das 112,9 bilhões de toneladas de CO2 emitidas, mais de 85% vem do desmatamento

Cínthia Leone

ClimaInfo

O conceito de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” em relação à crise do clima sempre foi importante nos debates nas Nações Unidas (ONU) e é um componente central das estratégias de negociação climática do Itamaraty. A concepção indica que embora todos os países tenham que agir para conter uma catástrofe climática iminente, alguns estados têm muito mais responsabilidade do que outros – são exatamente as emissões históricas que fazem o contrapeso.

O uso dessa concepção pelo Brasil para se colocar ao lado dos países mais pobres e com “menos culpa” está em vias de sofrer um duro golpe que merece toda a atenção.

Um levantamento do Carbon Brief calculou o volume de emissões de dióxido de carbono por diversos países entre 1850 e 2020 e descobriu que o Brasil foi o quarto maior emissor do planeta nos últimos 170 anos. A conta inclui o carbono liberado por atividades como desmatamento, mudança de uso da terra e produção de cimento, além das emissões associadas à queima de combustíveis fósseis.

Nos dias atuais, o Brasil já é considerado o sexto maior emissor global de gases de efeito estufa. Por não ter se industrializado nos mesmos níveis e na mesma época dos países mais ricos, os holofotes sobre as emissões históricas sempre negligenciaram as peculiaridades da poluição brasileira, muito mais ligada à mudança de uso do solo do que à energia fóssil.

Segundo o estudo, o país teria emitido 112,9 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2). Mais de 85% desse volume está associado à derrubada de florestas (96,9 GtCO2). Dos 20 países que mais emitiram carbono no período, o Brasil é quem lidera a lista na categoria desmatamento e mudança de uso da terra, seguido de perto pelos EUA (89,1 GtCO2) e Indonésia (87,9 GtCO2).

Em termos gerais, os EUA lideram o pelotão de países com mais emissões históricas, liberando mais de 509 GtCO2 desde 1850, o equivalente a 20,3% do total do planeta. Logo atrás, vem a China, com 284,4 GtCO2 (11,4%), e a Rússia, com 172,5 GtCO2 (6,9%). O Brasil, 4º lugar nessa lista, representou 4,5% de todas as emissões de carbono do período em todo o mundo.

No total, os seres humanos bombearam cerca de 2.500 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2) para a atmosfera desde 1850, deixando menos de 500 GtCO2 do orçamento restante de carbono para ficar abaixo de 1,5C de aquecimento.

O autor principal do estudo Simon Evans explica que a história importa porque a quantidade acumulada de dióxido de carbono (CO2) emitida desde meados do século 19 está intimamente ligada ao 1,2C de aquecimento que já ocorreu.

Em abril, o Fakebook.eco, site do Observatório do Clima que combate notícias falsas sobre o meio ambiente,  já havia desmentido afirmação de Jair Bolsonaro em carta ao presidente dos EUA, Joe Biden, de que o Brasil “é responsável por apenas 1% das emissões históricas de gases do efeito estufa, e menos de 3% do total corrente de emissões globais”.

A ideia de que o Brasil é um dos países que menos contribuíram para o aquecimento verificado vem de um estudo da década de 1990, feito por cientistas do governo brasileiro e apresentado pelo país na conferência de Kyoto, em 1997. A análise embasou a chamada “Brazilian Proposal”, ou Proposta Brasileira, que ajudou a sedimentar o entendimento de que a conta climática do Brasil é pequena porque o país não tinha quase nenhuma responsabilidade histórica pelo aquecimento observado hoje. Além de ser antigo, o dado da proposta original só levava em conta gás carbônico emitido por combustíveis fósseis.

Nos séculos 19 e 20, porém, o Brasil praticamente acabou com a Mata Atlântica. E, desde o final dos anos 1970, as emissões brasileiras são dominadas pelo desmatamento na Amazônia – em especial nos anos 1980, quando mais de 300 mil quilômetros quadrados de floresta foram abaixo. Estudos posteriores têm mostrado um quadro bem diferente: em 2014, por exemplo, um grupo de cientistas calculou todos os gases, incluindo uso da terra, e mostrou que o Brasil tinha a quarta maior contribuição histórica absoluta para o aquecimento global e a sétima maior contribuição per capita.

Em 2015, o físico Luiz Gylvan Meira Filho, autor principal do estudo brasileiro original, mostrou no Observatório do Clima um cálculo revisado segundo o qual a contribuição histórica do Brasil para o aquecimento verificado em 2005 era de 4,4% se considerados todos os gases.

O ranking dos top 8 é:

(1) EUA – 20%
(2) China – 11%
(3) Rússia – 7%
(4) Brasil – 5%
(5) Indonésia – 4%
(6) Alemanha – 4%
(7) Índia – 4%
(8) Reino Unido – 3%

Fonte: ClimaInfo/Fakebook.Eco/Dom Total

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