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Mundo do trabalho

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Mundo do trabalho

É urgente uma nova lógica na política e na economia, para que seja evitada a derrocada da humanidade.

O trabalho humano é condição indispensável para a promoção da justiça social e da paz civil (Unsplash/Waqas Saeed)

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Dia do Trabalhador, neste contexto de pandemia da Covid-19, evidencia ainda mais as muitas feridas do mundo do trabalho. As alarmantes estatísticas dos sem-trabalho sinalizam rostos sofridos e desesperançados. A chaga do mundo do trabalho torna-se ainda mais grave quando alguns se enriquecem inescrupulosamente enquanto muitos convivem com a fome. Um cenário que se perpetua por modelos perversos de exercício O Dia do Trabalhador, neste contexto de pandemia da Covid-19, evidencia ainda mais as muitas feridas do mundo do trabalho.da política, pela indiferença social, por uma cultura segregacionista e excludente de uma sociedade adoecida. Adoecimento que ameaça até aqueles que ilusoriamente buscam amparo nas próprias rendas e lucros. É, pois, urgente uma nova lógica na política e na economia, para que seja evitada a derrocada da humanidade.

A civilização contemporânea padece com a falta de compaixão. Uma carência que prejudica a inteligência humana, ofuscando a sua luminosidade. É preciso agir para que essa inteligência não descarrilhe ainda mais na direção de negacionismos e da falta de sentido humanístico. A sociedade reúne condições e meios para ser justa e solidária, pautada pela lógica da amizade social, ao sabor do Evangelho de Jesus Cristo. Não pode submeter-se às lideranças vazias de governos que não se pautam pelas lógicas das construções pluralistas – distantes do cristianismo autêntico que pode salvar e fecundar culturas, conferir à humanidade valores e princípios com força de transformação. Valores e princípios que permitam reconhecer a vida como dom.

Na perspectiva do autêntico cristianismo, o Dia do Trabalho é um grito de trabalhadores e trabalhadoras sem rumo, sem trabalho, desamparados.

Um clamor que precisa incomodar os insensíveis, inspirar os que têm maior responsabilidade na condução da sociedade e fecundar intuições para que sejam arquitetados novos cenários no mundo do trabalho. O gesto prioritário é a solidariedade, exercida em rede. Um indispensável remédio que funciona como nova luz para a inteligência e sabedoria no exercício de poderes. Os cristãos, em diálogo aberto e cooperativo com a sociedade pluralista, são convocados a ajudar para que a solidariedade se torne um princípio da vida social. Essa responsabilidade está enraizada nas muitas lições do Mestre e Senhor, que diz: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” e “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Assim, a Doutrina Social da Igreja Católica reúne elementos merecedores de redobrada atenção e comprometimentos urgentes.

Urge-se investir na solidariedade como princípio social e virtude moral.

As relações entre pessoas e povos, marcadas pela interdependência, precisam ser pautadas por autêntica solidariedade ético-social, para que seja recuperada a sociabilidade intrínseca à pessoa humana. Sob os parâmetros da solidariedade ético-social, prevaleça também o respeito à igualdade de todos em dignidade e direitos. Trilhando nesse sentido, a civilização contemporânea pode tratar adequadamente as feridas que ameaçam o mundo do trabalho. Deve-se reconhecer que trabalhar é um direito e um bem fundamental para cada pessoa. O trabalho é útil e necessário para formar e manter uma família, para efetivar o direito à propriedade e oferecer contribuição na promoção do bem comum. O desemprego é problema que desafia principalmente o Estado a promover adequadas políticas capazes de gerar trabalho.

A Doutrina Social da Igreja Católica mostra a necessidade de se reconhecer que o trabalho humano é condição indispensável para a promoção da justiça social e da paz civil. A comunidade politica está desafiada a assumir, com qualidade e protagonismo, o seu papel e, alicerçada em autoridade ilibada, promover o bem comum. Isso exige reconhecer e considerar as prioridades dos pobres, dos vulneráveis, dos sem-trabalho. Trata-se de um caminho para a preservação e fortalecimento da democracia. Sem medos, livres das indiferenças alimentadas por mesquinhez, a hora exige a coragem de se dedicar aos pobres, aos sem-trabalho. Um exercício essencial para construir uma economia que promova e preserve a vida, estimulando novos hábitos e a cura das feridas do mundo do trabalho.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, MG – Brasil. Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma (Itália). Membro da Congregação do Vaticano para a Doutrina da Fé. Dom Walmor presidiu a Comissão para Doutrina da Fé da CNBB. Também exerceu a presidência do Regional Leste II da CNBB – Minas Gerais e Espírito Santo. É o Ordinário para fiéis do Rito Oriental residentes no Brasil e desprovidos de Ordinário do próprio rito. Autor de numerosos livros e artigos. Membro da Academia Mineira de Letras. Grão-chanceler da PUC-Minas. Dom Walmor escreve toda sexta-feira para domtotal.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente do Dom Total. O autor assume integral e exclusivamente responsabilidade pela sua opinião.

Fonte: Dom Total

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